sábado, 5 de fevereiro de 2011

Santa Apolónia


Tinha cerca de três anos quando fui a Santa Apolónia pela primeira vez com a minha mãe despedir-me do meu pai, que ia, diz-me o "velhote", de fim de semana a Madrid. Recordo-me da emoção da despedida da minha mãe, não me estava a aperceber bem do que se estava a passar, concentrei-me antes no fundo do cais. O comboio partiu primeiro devagar e toda a cena me parecia passada num teatro (por causa da fachada estilo casa/teatro da gare ?), ao fundo uma tela pintada, orgânica com o comboio a integrar-se nela, a tela a ganhar profundidade, de repente pareceu-me uma selva...o meu pai ia para a selva?
Três da madrugada, insónia. Leio entrevista Publica,31.01.11, Anabela Mota Ribeiro ao psicanalista João Seabra Diniz :
AMR: Dante começa a fazer a sua viagem pouco depois dos 30 anos, entra na selva oscura"
JSD: "Nel mezzo del cammin di nostra vita/ mi ritrovai per una selva oscura "
AMR: Porque sabe de cor a Divina Comédia?"
JSD: Porque gosto!Falo bem italiano. Na Comédia, aparece o famoso episódio de Paolo e Francesca, que se tinham apaixonado. Essa paixão era culpada e por isso estão no Inferno. Quando Dante lá chega com Virgílio, Francesca explica-lhe. "Amor, que não perdoa deixar de amar a quem ama, a este me prendeu com amor tão forte, que ainda, como vês, não me abandona." É o esplendor do amor.
Como é que as crianças tem a intuição que têm? Como é que encontramos o sentido para o que nos acontece ? Como é que precisamos tantas vezes de tanto tempo para dar sentido?

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