sábado, 25 de dezembro de 2010

memórias da escola primária nos anos 60

O externato era num rés do chão de quatro assoalhadas adaptado a escola, num prédio situado num largo com jardim em Lisboa. O "Se´sôr", abreviatura de senhor professor, vivia no 1º andar desse mesmo prédio, andava com uma cana comprida na mão, fumava "Definitivos", segurando o cigarro com os dedos amarelos, por vezes a cinza caia no chão.
Era tudo muito auditivo, a palavra do professor, as tabuadas cantadas, a leitura dos textos em voz alta, restava pouco para o visual ! Muita repetição nos cadernos, a escrita em duas linhas, a aritmética no papel quadriculado , não me lembro de caderno de desenho a partir da 2ª classe, relegado para o espaço em branco do cabeçalho por cima das cópias, vá lá, 3 centímetros, a ilustrar. Gostava do exercício da cópia de palavras difíceis numa tira de papel pautado, dividida ao meio, à esquerda o modelo bem escrito, à direita o espaço para copiar correctamente, era o " linguado ", gostava destas palavras que imaginava preencherem a "espinha do peixe".
Da casa do professor no 1º andar, vinha às quintas feiras de manhã a telefonia para o programa musical da emissora nacional, pegado em peso, cuidado com o estrado, no lugar do "Se`sôr" a telefonia, em cima da secretária, tínhamos de esperar que as válvulas aquecessem para o hino nacional, para a marcha da mocidade portuguesa, lá íamos "marchando e rindo…cantando, levados " sim levados, o pretinho Barnabé…a loja do mestre André...o burrinho que ia para ..., carregadinho de …! Nós gostávamos desta meia hora de audio, era uma quebra da rotina das cópias , dos ditados, os" tanques " enchiam-se à tarde de problemas de aritmética.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

" De volta à escola primária "


Andava eu a tentar escrever um post sobre a minha escola primária, vivida há mais de 40 anos atrás, num externato masculino instalado num rés do chão de quatro assoalhadas adaptado a escola, num prédio situado num largo com jardim, em Lisboa. Uma das recordações que guardo desses tempos e desse espaço escolar, é a de uns cartões estampados com cenas da História de Portugal , que encontrava na cozinha desactivada a servir de arrecadação, sempre que o professor me mandava lá ir buscar ou levar alguma coisa, e que me fascinavam a mim e aos meus colegas; investidas de exércitos, batalhas a cavalo, o vermelho vivo dos guerreiros feridos, assaltos a castelos, reis à frente das suas tropas, belas e exemplares rainhas, grandiosos feitos arrumados num caixote, mas que passávamos rápido no risco de nos estarmos a distrair, de qualquer outra coisa mais essencial.
Se me lembro bem, estes cartões nunca saíram para a sala de aula. Era tudo muito auditivo, a palavra do professor, as tabuadas cantadas, a leitura dos textos em voz alta, restava pouco para o visual ! Muita repetição nos cadernos, a escrita em duas linhas, a aritmética no papel quadriculado , não me lembro de ter caderno de desenho a partir da 2ª classe, actividade relegada para o espaço em branco do cabeçalho por cima das cópias, vá lá, 3 centímetros, a ilustrar.
Eu estou para jurar que encontrei essas cenas da História de Portugal em 2010. em forma de livro - album editado pela Gradiva; afinal eram aguarelas de Alberto de Sousa e quadros de Roque Gameiro, publicado pela primeira vez na 1ª República e já não reeditado desde 1932. Os quadros foram desaparecendo das escolas, o livro desaparecendo das livrarias , talvez pelas malhas que as ditaduras tecem, estou certo que o poderíamos comprovar, históricamente falando.

Imagem: Cerco de Lisboa , por Roque Gameiro