quarta-feira, 23 de junho de 2010

Equipa do Sport, Lisboa e Benfica que conquistou a I Liga em 1935/36

Antes de conhecer o meu avô pessoalmente, conheci-o através desta fotografia. No primeiro dia que fui a casa dos meus avós, em Campo D`Ourique e lá fiquei sem os meus pais. Não sei quantos anos tinha mas era muito pequeno. Estava só com a minha avó e estava a familiarizar-me com ela. A minha avó disse-me que o meu avô não tardava. "Outro estranho? Como será este?" Não sei se tranpareceu, alguma inquietação da minha parte, a minha avó apontou-me esta fotografia emoldurada na parede e disse-me," é aquele o avô,foi jogador de futebol do Benfica", percebi que era algo com valor. Ela saíu da sala atarefada com o almoço e eu permaneci a olhar o quadro na parede e a ver a fotografia com atenção, a tentar descodificar tudo aquilo. Passado alguns momentos, tocam à porta, ele tocava sempre duas vezes, era o sinal para a minha avó saber que era ele, vim a saber depois. E ai fiquei na expectativa, enquanto ele subia o quarto andar... Será que iria gostar dele? Fiquei logo a gostar dele(s), eram os afectos, começei a saber desde esse dia. De pé, da esquerda para a direita: Tavares, Rogério de Sousa, Gustavo Teixeira, Gatinho, Gaspar Pinto e Albino; Em primeiro plano: Domingos Lopes, Luíz Xavier, Vítor Silva, Torres e Valadas.

domingo, 20 de junho de 2010

Futebol no largo


Já adolescentes comentávamos entre a malta, quando recordávamos no banco do jardim, a rir a bandeiras despregadas, as histórias das nossas vivências e brincadeiras de infância lisboeta, e das pessoas que conhecíamos, que alguém as devia escrever.
Encontrei recentemente necessidade de o fazer. O mais curioso é que depois disso encontrei numa pasta antiga um escrito que fiz com cerca de 18 anos sobre o mesmo tema, percebo-lhe a "ganga" ideológica com que o "vesti", mas oiço a minha voz...

Dedicado à malta

"futebol no largo"

Com efeito estávamos em plena dita, sem que nos apercebêssemos que o fim não tardaria muito.
E têm muita piada, que os miúdos do largo, eram à sua maneira, muito particular é certo, combatentes da repressão e mais do que isso, apercebiam-se nitidamente que algo ia mal.
Vejamos.
Estava-se em pleno êxtase futebolístico, com os miúdos a disputar uma renhida partida. Tudo se conjugava para que a partida continuasse competitiva, pois estava uma bela fim de tarde, as duas equipas estavam muito equilibradas e era a estreia oficial de uma bola que tinha sido adquirida através de uma colecta entre os miúdos.
Era a bola da malta. Muito cheia, de material plástico, saltava demasiado no empedrado do jardim, o que originou o desagravo quase total da miudagem.
------- Que grande barrete ! Essa bola não vale nada, salta muito --- disseram os mais tecnicistas, cuja particularidade da bola saltar em demasia não favorecia a sua habilidade.
-------Vamos é furar isso ! --- resolveram de imediato esses miúdos.
E assim se fez; um pequeno furo no pipo e aí está ela a desencher e a tornar-se numa bola "pau para toda a obra" que é o mesmo que dizer, que estava pronta para se adaptar às características do campo que tinha pequenas dimensões e chão empedrado.
Reunidas excelentes condições para o desafio estar a cumprir o esperado. Equilibradíssimo: 5 a 4, 7 a 6, 9 a 7, 10 a 9 … A cada golo, a correspondente euforia do marcador e seus comparsas .
As balizas eram sui-generis, pois uma era limitada pelo chafariz e por uma árvore, a outra ainda mais inédita era um banco de pedra a todo o comprimento e com meio metro de altura. Escusado será dizer, posto isto, que não havia dia em que se não discutisse se o remate "x" era golo ou não, se o remate "y" tinha batido no poste ou não, etc.
O público à força, não gozava com o desafio, pois estava habilitado a participar no jogo, mesmo sem querer; é que a rapaziada não se fazia rogada no capítulo do remate, os chutos eram fortes e das duas, uma, ou iam parar debaixo do eléctrico, camião ou outra viatura ou então paravam quando encontravam umas pernas ou umas caras pela frente … Quando isso sucedia, a rapaziada muito "bem comportada”, pedia desculpa, e recomeçava imediatamente.
Nesse dia, não se tinha acertado ainda em ninguém, ainda só eram 6 da tarde, mas o jogo que estava empatado teve o seu final mais cedo, forçadamente…
Dois agentes da autoridade, fazendo valer a sua capacidade repressiva, acercaram-se do jardim, fazendo cerco ao terreno de jogo. Embrenhadíssimos na partida, com as faces coradas do esforço, os olhos fixos nos caprichos da bola da malta, ninguém se apercebeu da presença indesejada dos "chapas".
E assim foi fácil, intercederem e cortarem o fio do jogo. Agarraram na bola e acto contínuo, os miúdos especaram, ainda não se apercebendo bem do que acontecera para logo de seguida se precipitarem em fuga, rapidíssima, automatizada, “enquanto o diabo esfrega um olho”, esgueirando-se para a "quinta", ou seja, o bairro da lata onde eles sabiam que a polícia não ia… Os polícias entretanto com a bola na mão atónitos assistiam impotentes ao desenrolar da fuga. Nada podiam fazer senão ameaçar:
---Isto só a tiro ! ---- disse um ligeiramente perturbado com uma taça de tinto que tinha bebido na tasca mais próxima.
----- Cambada de canalhas…se eu pego em algum … --- bradou o outro.
Nos bancos do jardim, as mamãs, as "vóvós", as "criaditas", podiam largar os seus rebentos pelo campo de futebol abandonado,
Já não havia perigo. O terror personificado nos "miúdos" dos 8 aos 18 anos tinha sido banido e reprimido pela autoridade.

" Todavia para lá das vozes cada vez mais confusas e indistintas cria-se um nível a partir do qual, essa absurda traição do tempo deixa pura e simplesmente de existir, para tudo não ser mais do que memória, sem princípio nem fim, que nos faz andar desde sempre à procura de qualquer coisa de raro e indefinido "
íntima fracção , suspenso de um sonho, Maio 2010

domingo, 13 de junho de 2010

Sport, Lisboa e Infância

Lugares de jogo da minha infância lisboeta, numa praceta , nos finais dos anos 60 e princípio dos 70, século XX." Vou para o jardim Mãe … " descia em saltos de sete degraus os lances de escada do 3º andar até ao rés-do-chão. Era o tempo em que o Verão tinha três meses, nas tardes de canícula, a partir das 4 e meia começava o futebol… Circundado por prédios de três andares, o jardim era o espaço mais amplo e apetecível para o futebol da malta, de solo empedrado ligeiramente inclinado mas macio, preferível ao alcatrão da estrada que circundava o jardim e que terminados os prédios confinavam com uma "quinta", lugar de duvidosa garagem, térreas barracas onde viviam pessoas, cresciam ervas por todo o lado, cascalho, cães e carreiros por onde se chegava às azinhagas .
A baliza sul era entre a pedra da bica, e a esquina do ressalto calcário que delineava o caminho de entrada e saída do jardim. Atrás, a Estrada de Benfica dos eléctricos e dos autocarros de dois andares da Carris. A baliza norte era delimitada por um dos lados de um banco quadrangular de pedra calcária, 3x3m, que circundava um canteiro com uma arvore de médio porte no interior. A criançada gostava de subir aquela árvore e lá ficar empoleirada, a salvo, provavelmente do mundo dos adultos, sítio para pensar ou apenas estar…
Nessas tardes intermináveis, os desafios, muda aos cinco acaba aos dez em regime de sessões contínuas, eram jogados por todos com entrega total, uns mais novos, outros mais velhos, e por vezes, juntava-se a nós um ou outro adulto, abrindo um parêntesis nessa sua condição. As contribuições dos crescidos que não resistiam a entrar em partidas tão renhidas eram por vezes assaz cómicas, como por exemplo o livre marcado "à Eusébio ", cheio de balanço, por um dos mais velhos que já tinha ido "às sortes" ; perante barreira assustada o remate acabava por parir um rato pois a bola voava por cima da arvore indo parar à loja do sapateiro no topo da praceta enquanto era o próprio sapato do marcador de livres a entrar na baliza improvisada. E era tudo a rir...Ou então o adulto obeso, de fato, resolve entrar na jogatana da malta, pleno de entrega, e desfaz-se em suor o que leva algum tempo para se dessedentar e recompor da camisa alagada e do pó nas calças.
O jardim era nestas tardes verdadeiramente multi-usos pois enquanto a miudagem jogava à bola, nos bancos dos jardins, linhas limite de um lado e de outro do campo de jogo, avós sentavam-se com os seus netos normalmente crianças pequenas, criadas namoravam com magalas, … Por vezes a bola ressaltava na cabeça da" netinha ", iniciando o choro compulsivo da criança, a indignação da avó e as desculpas do "infractor" apressadas pela febre da refrega futebolística que urgia.
Esta actividade futebolística no jardim era pois actividade proibida. Os jogos desenrolavam-se na incerteza do aparecimento sub-reptício do encarregado da jardinagem, alcunhado como "o mau", capaz de nos subtrair a bola, de a retalhar com um canivete, aí tudo parava, escondia-se a bola "assobiava-se para o ar". Mas a cegada maior era quando aparecia a polícia, "a bófia", "os chuis", havia a possibilidade difusa de ir parar à esquadra, e aí é que era debandada da malta, em corrida desenfreada em direcção à quinta, por onde nos embrenhávamos em dias de maior aflição, ou escondendo-nos nas escadas dos prédios com portas ocasionalmente abertas.




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sábado, 12 de junho de 2010

memória


" Todavia para lá das vozes cada vez mais confusas e indistintas cria-se um nível a partir do qual, essa absurda traição do tempo deixa pura e simplesmente de existir, para tudo não ser mais do que memória, sem princípio nem fim, que nos faz andar desde sempre à procura de qualquer coisa de raro e indefinido "
íntima fracção , suspenso de um sonho, Maio 2010

sexta-feira, 4 de junho de 2010